quarta-feira, 18 de novembro de 2009

30/10/09 - OFICINA LIVRE – FILME “OS NARRADORES DE JAVÉ”



Nada melhor para tirar o estresse de sexta-feira – citação de uma amiga – do que uma sessão pipoca.
Um bom filme, um bom motivo para estarmos juntos...
Apesar das fortes chuvas durante uma semana inteira, estradas bloqueadas, uma série de motivos de força maior que impediram a maioria dos cursistas de comparecer ao nosso encontro, àqueles que fizeram dos obstáculos - superação - meus sinceros agradecimentos.
Amanda Pedrosa
Afinal,

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre”.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder o filho, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem o fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca de milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria pra ninguém.

Extraído do livro “O amor que acende a lua”, Rubem Alves
E é justamente falando de alegrias que relato a nossa oficina livre com o filme “Os narradores de Javé”. Foi um momento de bastante descontração, afinal, é um filme muito “engraçado” porque mexe com nossas raízes, histórias populares, o “Era uma vez” de um povo que se faz história e que se faz nação...
Colocamos em questão todos os assuntos abordados até o momento, especialmente a questão do Letramento e iniciamos uma discussão a respeito das variações culturais e lingüísticas das próximas unidades.
O que faço nesse relatório é apenas me colocar como escriba e registrar os fatos da maneira como realmente aconteceram. Rs...
Os cursistas interpretaram o papel do escriba como o nosso papel de professores, quando muitas vezes interferimos na história dos alunos – vimos o texto através dos nossos olhos – não deixamos nossos alunos a vontade. Esperamos dos nossos alunos a “verdadeira história” – assim como o escriba – e não temos paciência. Percebemos isso quando a história é cortada, moldada pelo escriba. Muitas vezes não valorizamos o conhecimento de mundo dos nossos estudantes.
Questionamos também a importância que aquelas pessoas da comunidade de Javé deram ao “sujeito letrado”, pedindo que ele registrasse e colocasse tudo no papel. No pensamento dos moradores, os rabiscos feitos pelo narrador eram as histórias contadas por eles( percebemos aqui o forte traço do analfabetismo daquela comunidade).
Não podemos nos esquecer também da presença forte da oralidade no filme, pois a história é contada e moldada por cada morador, construindo a história de Javé através da vivência de cada um.
Os cursistas gostaram muito do filme e acharam conveniente utilizá-lo em sala de aula para tratar de questões com a semântica, a oralidade e a escrita.
Não confundir habeas corpus com corpus Christi / Brigando em retirada com sair fugido / Pensar com essa cabeça que é minha / Colocar as idéias no papel, entre outras expressões serão temas para aulas muito interessantes, não acham?
Encerramos nossa noite com o texto País Emergente, Educação Submersa – Marcos Bagno, constatando que é duro realmente viver num país de poucos letrados, onde as histórias são feitas e contadas por quem “entende das Letras e dos Números”.
Falando em números, esses superam sempre a realidade...
Amanda Pedrosa

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